Na China, três mil anos antes de nossa era, o jade já era considerado uma pedra real. Sobre outro continente, na América Central, há 3000 anos, os Olmecas, povo brilhante e avançado, utilizavam o jade em esculturas dedicadas à divindades e em máscaras funerárias.

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Qual é o ponto em comum entre estas civilizações geograficamente e culturalmente separadas, que com vários séculos de intervalo, consagraram uma adoração à mesma rocha: o jade? A princípio, a explicação pode ser simplesmente geológica e prática. De fato, na China, na América Central e inclusive na Suíça, coração da Europa, na Sibéria ou na Rússia, o jade foi em princípio extraído e utilizado por suas particularidades físicas.

confuciooo azulEsta rocha dura permitiu, desde a época neolítica, a fabricação de ferramentas como machados e facas pontiagudas. Entretanto, na China e na América central, muito rapidamente, a dimensão prática deste mineral dá espaço a um aspecto muito mais profundo e espiritual. “Yu”, a pedra real, o jade nefrita na China, definido por Confúcio desde o século I como a pedra que simboliza a virtude. «O jade é precioso, não porque é mais raro, mas porque a qualidade do jade corresponde às virtudes de um homem, tais como benevolência, sabedoria, retidão, convivência, lealdade e fidelidade. O jade é doce e agradável, como um homem de bem.

 O jade possui uma textura fina, porém é sólido, tal como a sabedoria de um homem e seu modo de aplicá-la e aprofundar-se em administrar as coisas. Embora o jade tenha bordas e esquinas, não é cortante e não seria capaz de ferir. O mesmo ocorre com o sentido de justiça e retidão de um homem de bem. Quando o jade é suspenso, representa a moderação e a prudência polida de um homem. Quando é atingido, libera um som vivo e claro, semelhante à natureza de uma música.

 Embora o jade seja bonito, suas imperfeições também são evidentes, porém não são capazes de ocultar seus méritos, assim como a lealdade de um homem sem preconceitos e sem necessidade de dissimulação. Além disso, a cor do jade pode ser vista sob todos os ângulos, assim como a confiança de um homem de bem, seu comportamento é coerente com suas palavras. Até em um quarto sombrio ele é digno de confiança e não saberia enganar a outros(…) »


Se é possível estimar o ouro, o Jade em si é inestimável, diz um provérbio chinês.


Durante muitos séculos, o amor da China por esta pedra não desapareceu. Ele resistiu ao tempo e o jade continua sendo uma pedra extremamente procurada, como símbolo de certa excelência e riqueza. Também possui uma forte conexão com a herança. As famílias passam o jade de geração a geração. A China esperou até o século XIII para descobrir a jadite, importada pela dinastia Qing de Birmania. Ambos jades coabitam desde essa época, com um entusiasmo muito particular pelo jade imperial, em jadeite.

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O jade está associado ao poder. Numerosas tumbas de imperadores na China ocultam um grande número de tesouros em jade, particularmente em tubos de jade como símbolo de poder, machado de jade, como símbolo de poder militar e disco de jade, símbolo de fortuna. Para os imperadores chineses, o jade foi considerado um tipo de talismã sagrado, que permitia sua comunicação com os deuses, já que essa rocha continha, segundo a crença, as essências do Céu e da Terra, do divino e do ser humano.

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Sobre outro continente, a milhares de quilômetros da China, 1500 anos antes da nossa era, os Olmecas da América Central, antepassados dos Maias, viam valores espirituais elevados no jade. O jade, fértil sobre a terra Olmeca, também era utilizado como símbolo de poder e objeto de alta espiritualidade. Machados de jade polidos foram encontrados e segundo o professor Carmen Bernand da Universidade de Paris X Nanterre, expressando-se sobre este tema na página da internet clio.fr, « a função (destes machados) é um ritual, não é utilitário: Eram oferendas – o jade era o substituto simbólico e não perecível do sangue. Colocados na posição vertical, representavam o eixo do mundo que unia os três níveis verticais do céu, da terra e do infra mundo, concebido como uma árvore da vida – representação cósmica fundamental em toda a mitologia mesoamericana – mas também delimitavam os quatro orientes. ” Futuramente, os maias, os toltecas e os astecas também conservaram este afeto particular pelo jade.

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As máscaras funerárias que se encontravam nas tumbas dos senhores maias foram fabricadas com a técnica de mosaico, com pedaços de jade, de conchas, de turquesa, de obsidiana e também de hematita e amazonita. Para os maias, assim como na China, o jade permitia a comunicação entre os deuses sobre o plano celestial, dos homens, dos animais e das plantas, no plano terrestre e no infra mundo para os senhores da morte. Uma vez símbolo de poder, força e laço entre o visível e o invisível, o jade foi considerado uma pedra sagrada que permanecerá durante muitos anos na América central.

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Os Astecas continuaram trabalhando com jade até a chagada dos conquistadores no século XVI. Os espanhóis, cegos pela busca de ouro, não perceberam a importância do jade e segundo a lenda, em 1521, o último imperador asteca teria dito estas palavras, regozijando-se de que “os demônios espanhóis que saquearam todo o ouro que os deixaram loucos”, não se interessaram pelo jade, o essencial, segundo ele.

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Na Guatemala, sob a pressão das colônias espanholas, as minas de jade foram esquecidas. Teve-se de esperar até 1952 para que o geólogo Robert Leslie redescobrisse o jade sobre a ladeira Norte do vale do rio Motagua (Sierra Las Minas), ao sudeste da Guatemala. Ao fim dos anos 90 e início do ano 2000, novas escavações destacariam blocos de jade encontrados ao sul do rio Motagua.

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Durante 2500 anos, os maias e seus antepassados extraíram o Jade nessas ladeiras Meridionais e ao norte do rio Motagua. Como tal memória pode se perder até 1952? A resposta se encontra no trauma deixado pelos conquistadores que trataram de matar a cultura Mesoamericana, tanto fisicamente como culturalmente.

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